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TAÇA VERMELHO E BRANCO ADB ALIMENTOS E AS MULHERES

Por: Airton F. Iepsen

Antes de abordarmos a participação feminina na Taça Vermelho e Branco ADB Alimentos edição 2025 queremos fazer um pequeno retrospecto do histórico da inclusão do sexo feminino no futebol no Brasil. O país do futebol. Citamos Marina Broch[1]:

“A história do futebol feminino se faz através de uma trajetória intrinsicamente relacionada a constante luta contra o preconceito e a quebra de estigmas, a luta por reconhecimento, e acima de tudo, à resistência das mulheres jogadoras de futebol em épocas que eram proibidas de fazê-lo. Isso tudo por conta do reflexo causado pela desigualdade de gênero no que se refere a prática do esporte diante de jogadores do sexo masculino ou feminino. Um fato que evidencia este dilema e carrega consigo a simbologia desta realidade, é que por quase 40 anos as mulheres foram proibidas de jogar futebol no Brasil.” (2021, p. 696).

Ainda segundo a autora citada, o início do futebol no Brasil, começo do século XX o esporte era restrito a uma pequena camada da sociedade, onde a desigualdade racial, social e de gênero eram uma realidade. (2021, p. 697). Assim nos primórdios somente homens brancos e ricos podiam praticar o esporte futebol. Em 1921, o então presidente Epitácio Pessoa recomendava que não fossem incluídos mulatos na seleção brasileira que jogaria na Argentina.

Em 14 de abril de 1941 o presidente do Brasil, Getúlio Vargas assinava o Decreto-Lei 3.199 que determinava que: “às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”. O decreto não nominava o futebol, porém estendia especificamente ao futebol e ele feria a natureza feminina considerando ser um esporte de contato físico. Ou seja, os esportes para as mulheres sugeridos eram aqueles compatíveis com a estrutura corporal feminina.

Em 1965, durante a ditadura militar o Conselho Nacional de Desportos aprovou a Deliberação número 7, proibindo para as mulheres os seguintes esportes: futebol de praia, futebol, polo aquático, rugby e halterofilismo. Essa deliberação só foi revogada no final da década de 1970, a primeira seleção feminina jogou em 1986, e os primeiros clubes a surgir em 1993, com o SAAD paulista e o Radar carioca, e geridos sempre por homens.

Achamos importante este preâmbulo no sentido de lembrar que o futebol feminino enfrentou mais de meio século para ser permitido no Brasil. Muito provavelmente isso reflete ainda hoje a pouca participação das mulheres em campos e quadras. Destacar aí a importância da presença feminina, em minoria, mas sempre presente. Na Taça Vermelho e Branco ADB Alimentos 2025, não será diferente. A seguir destacamos um pouco das cinco equipes femininas participantes da competição:

Começamos com a equipe Gurias do Sextou, uma das equipes que abrirá as disputas femininas da competição, e um pouco de sua história nas palavras de Mara Bauer: “O Gurias do Sextou nasceu pela paixão pelo futsal e da amizade que começou na quadra. Tudo iniciou quando éramos mães acompanhando nossos filhos na escolinha Piazzito´s. Nos amistosos arriscávamos nossos próprios jogos e, depois de uma derrota surgiu a ideia: treinar juntas e comemorar com churrasco.

Com o tempo, vieram as amigas, e o grupo cresceu. Hoje, já não é só o futsal: são muitos quilômetros de mate compartilhados, risadas intermináveis, fofocas sinceras, música, bailes e viagens que marcam nossa história. Celebramos aniversários, festas de fim de ano e, acima de tudo, mantemos a tradição sagrada das sextas feiras: quadra, churrasco e gelada na mão. Mais que um time, uma família. Somos amizade, diversão e energia que não acaba: somos as Gurias do Sextou! Abaixo o escudo da equipe:

A seguir, um pouco de uma tradicional equipe da região litorânea de São Lourenço do Sul: O Brooklin, equipe com muita presença no futebol lourenciano. Porém até agora somente masculino. Segundo Marcela Barz:

“O Brooklin Feminino surgiu através de um convite de Ânderson Rodrigues, o Bolinha um dos fundadores da equipe masculina. A ideia surgiu com o propósito de fortalecer o futebol feminino na cidade, reunindo atletas de diferentes times em uma única equipe. Com incentivo, apoio e, acima de tudo valorização o Brooklin Feminino se tornou um espaço de união, amizade e oportunidades dentro do esporte.

Mais do que resultados, o Brooklin carrega a bandeira da força, dedicação e paixão pelo futebol, mostrando que a presença feminina nas quadras é cada vez mais forte e essencial para o esporte local. Abaixo, o escudo do Brooklin:

A próxima equipe a ser abordada é as Charruas, uma das equipes que fará a abertura do futebol feminino na competição nas palavras de Tainá Garcia de Souza:

“Nosso grupo conta com quinze atletas todas elas da cidade de São Lourenço do Sul. Algumas de nós jogam juntas em alguns horários. E temos como objetivo fortalecer o futebol feminino, incentivar a participação das mulheres no esporte e representar bem nossa comunidade no campeonato. E conforme Tainá, muito felizes pela oportunidade e agradecidas pelo espaço no site Litoral Esportes” Abaixo o escuda das Charruas:

A quarta equipe Elas em Campo nas palavras de Grazi:

“Tudo começou de forma simples, quase sem querer. Um treino marcado em um horário diferente do habitual, só para bater uma bola e se divertir. Uma chamava a outra, e quando vimos… já éramos várias. Entre risadas, correria e jogadas, percebemos que tínhamos criado mais que um grupo: estávamos formando um time!

E time que é time precisa de um nome, né? Fizemos uma enquete, todas participaram, e assim nasceu Elas em Campo – um nome que representa exatamente quem somos: mulheres que ocupam o espaço, que jogam, que vibram e que transformam a quadra em lugar de amizade, garra e alegria. O fardamento também veio dessa união: escolhido juntas, com a cara do grupo, porque aqui cada detalhe é construído por todas. E quando entramos em quadra, não levamos só chuteiras e bola. Mas também histórias, força, parceria e a certeza de que futebol também é lugar de mulher. Abaixo o escudo da equipe:

A última equipe, as Unidas com Daniela Wilke:

A Unidas, uma tradicional equipe do interior de São Lourenço do Sul, originária da localidade de Boqueirão, no 1º distrito, que já conquistou títulos como exemplo no Salão Rojahn no ano de 2023, participa agora de uma competição na cidade de São Lourenço do Sul. Daniela Wilke, uma das lideranças da equipe informa que para a participação na Taça Vermelho e Branco 2025 a equipe se valeu de uma junção com duas das equipes mais atuantes e vitoriosas nas competições no interior do município: Fênix e Penharol. Então, a equipe Unidas é uma representante do interior, fruto da união de atletas de três equipes. Abaixo o escudo das Unidas:

Por falta de informações e registros confiáveis não se sabe exatamente a partir de que ano o futebol feminino teve seu início em São Lourenço do Sul. Sabemos que no final do século XX e início do século XXI o futebol feminino era forte, especialmente na modalidade campo. E que perdeu força na segunda década do atual século. Dando lugar ao futebol de salão. Porém nos últimos anos, essa força está diminuindo. Quase não vemos renovação dos quadros especialmente no interior do município. Algumas competições tradicionais inclusive nem tem mais a presença do campeonato feminino, o que é lamentável. Este registro, quem sabe serve para documentar um pouco da história da presença das mulheres nos campos e quadras lourencianas. E quem sabe seja um início de uma nova era das mulheres nas competições. Porque LUGAR DE MULHER, É ONDE ELA QUISER. Inclusive no mundo da bola. Nós apoiamos!


[1]BROCH, Marina. Histórico do futebol feminino no Brasil: considerações acerca da desigualdade de gênero. Temporalidades – Revista de História, ed. 35, v. 13, n. 1, jan./jun. 2021.

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