O presente trabalho é produto de uma conversa nossa com o treinador Leandro Ugalde, o Lelo, argentino, de Tigres na grande Buenos Aires, que esteve a frente da direção técnica da ABF Futsal na véspera de seu retorno a terra natal, depois de finalizar a temporada ano de 2025. A seguir Ugalde responde algumas questões.
Quem é Leandro Ugalde
Leandro Ugalde, argentino, torcedor da equipe do Tigre. Começou a jogar futsal com 4 anos no Club Glória em Tigre, grande Buenos Aires. Com 18 anos foi convocado pela seleção argentina e teve oportunidade de participar de uma competição com a presença de Choco, Manoel Tobias entre outros no Rio de Janeiro. Atuou na equipe de futsal do River Plate, onde conquistou o título argentino. Na Copa do Mundo do ano 2000 na Guatemala não pode participar em função de uma lesão. A partir daí, mesmo recuperado da lesão, começou a se interessar na formação como diretor técnico. Com 32 anos o início da carreira nas categorias de base do Club Glória, aquele onde fez sua formação de seis anos. Em 2018 fez um estágio no Brasil, na cidade de Jaraguá, Santa Catarina com Fernando Ferreti. Ele lembra que na Argentina a vida como atleta de futsal é difícil, pois ainda não remunera de uma maneira satisfatória comparando com o Brasil. Bem da verdade com a Copa do Mundo 2016, na Argentina, e o título conquistado em casa, a situação melhorou um pouco. Sua carreira também na categoria principal como diretor técnico teve início no Club Glória, passou também pela equipe do Excursionista, Clube Atlético Tigre e conquistou título na equipe do 25 de março.
Na atualidade ocupando a função de diretor técnico da ABF Futsal, Leandro considera como uma grande oportunidade ao trabalhar no Brasil, primeira força do futsal sul-americano, em uma experiência internacional. Com capacitação técnica, com muito aprendizado com outra cultura esportiva, e aproveitando a oportunidade recebida.

Como se deu a chegada de Leandro Ugalde para a ABF Futsal?
Surgiu a possibilidade de trazer um treinador argentino, uma situação diferente. Contatos com Nacho Cabral, diretor de uma escola de treinadores de futsal, e Allan Garcias, coordenador de futsal da equipe do Boca Juniors. Assim, Leandro Ugalde surgiu como uma das opções entre outros. Lembra que voltava de férias em Missiones, região próxima ao Rio Grande do Sul, quando recebeu a proposta via telefone. E não pensou duas vezes em aceitar, sem nem mesmo perguntar sobre as condições de trabalho nem com a questão salarial. Não sabia onde trabalhar, mas entendeu que era uma oportunidade única. Foi uma decisão e Leandro ainda hoje é muito grato por esta chance de trabalhar no Rio Grande do Sul.

Uma avaliação da sua passagem na temporada 2025 pela ABF Futsal?
Leandro Ugalde lembra que ao aceitar o convite, começou a assistir a jogos do campeonato gaúcho de futsal da série ouro, em especial da ABF Futsal para se inteirar da realidade. Quando chegou a São Lourenço do Sul ele lembra que alguns atletas que estavam na equipe em 2024, já não estavam nessa temporada. Assim, o trabalho também começou com alguns atletas novos na equipe. Leandro enfrentou situações como as diferenças culturais, bem como a questão do idioma. Na sua percepção pode ver uma boa evolução individual na equipe, porém que necessita de uma continuidade, mais tempo, para que efetivamente o trabalho renda bons frutos. Ou seja, mudanças às vezes necessárias, mas que precisam de tempo para imprimir um novo formato de jogo. Foram 80 treinos no período. Se considera um pouco desiludido, junto com a equipe e com os torcedores pela eliminação prematura nas oitavas de final para o F. C. Riograndense em casa. Entende que a equipe efetivamente superior seria a A.C.B.F de Carlos Barbosa. Já com relação a S.E.R. Santiago entende que os embates foram bastante equilibrados, e a ABF Futsal ficou em segundo lugar na sua chave especialmente pela derrota em casa para SER Santiago por um resultado ajustado: 2 x 1. Afirma que tem muita coisa boa, e outras que precisam melhorar. Porque a intenção era pelo menos chegar às quartas de final e enfrentar a equipe da A.C.B.F. A avaliação é de um sabor agridoce, e falando em percentual, sua avaliação dos trabalhos no ano é de 50% a 50%.

O quadro de atletas não foi o escolhido pelo treinador. Isso foi um possível problema? E a questão de atletas privilegiarem competições locais ao invés de treinamentos na ABF Futsal e consequentemente não ser relacionados?
Primeiramente Leandro segue um lema: Trabalhar com o que tem disponível. Acha que a falta de um pivô foi muito importante, e assim ele precisou improvisar atletas que não tem esse perfil, com Rafinha e Geyo. Parabeniza aos atletas que se dedicaram, mesmo atuando em posição que não a deles, fizeram o melhor para a equipe, e entende que com pivô de ofício talvez a situação e o desempenho da equipe poderia ser outro. Ou seja, isso é uma hipótese. E aí lembra a hoje seleção lourenciana que conta com pivôs da qualidade de Choco e Daniel Carvalho.
Sobre a questão de atletas jogarem competições locais ao invés de treinamentos pela ABF Futsal talvez um pouco de falta de comprometimento não só dos atletas, mas da comissão técnica e inclusive dele. Um compromisso que todos devem ter. Cada treino faltando, é uma perda. Treinos são usados para ensaios de situações de jogo na prática. No papel, na palavra ou na prancha a situação é diferente. Lembra que alguns atletas de 80 treinos, faltaram 20. Isso dá um percentual de 25% de treinamentos perdidos. Entende que isso pode melhorar muito, mas depende do compromisso de cada um. Atletas precisam de boa alimentação, de tempo de descanso, para bom rendimento. Muito trabalho, bastante gente envolvida, inclusive apoiadores. Reconhecer o lugar e a importância de cada um no sistema.
E o programa ABF nas escolas?
Eu comecei minha formação com 4 anos. Por experiência profissional acredito que um clube terá saúde, sentimento de pertencimento, possibilidade de conhecer gente, uma boa formação como pessoa, te ensinar a cair e a se levantar. Ou seja, lidar com vitórias e derrotas. Nós somos exemplo para essas pessoas, e a importância de ensinar hábitos saudáveis, alimentação, cuidar de sua saúde, não só como competir, mas vai muito além do esporte. Uma apresentação de disciplina para as crianças onde a realidade é internet, celular, comunicação fria e distanciamento inclusive da natureza. A interação com os amigos, o desenvolvimento de emoções. Mesmo se não se transformar em um atleta profissional, mesmo assim servirá como uma experiência e uma relação para o resto da sua vida em todos os segmentos de sua vida, enfim de muita importância este programa com escolares.

Como ficou a relação Leandro Ugalde e ABF Futsal? A volta para a Argentina é um adeus ou até logo mais?
Com o presidente Jerry existe muito diálogo e um bom relacionamento, e informou que apreciou meu trabalho. A porta ficou aberta para um possível retorno. Leandro Ugalde entende a necessidade de a ABF Futsal implantar categorias de base na equipe. Como sentido de pertencimento. Mas também de preparar jovens para logo ali vestir a camiseta da equipe principal da ABF Futsal. Uma maneira também da presença da família, de um sentido de união. Jogadores que começam a sua vida esportiva na ABF. E Leandro em suas andanças em especial nas competições que acompanhou viu muitos jovens lourencianos com potencial para futuramente estar vestindo a camisa da ABF. Mas entende que esse é um projeto que demanda tempo, não se faz isso de um dia para outro, porque a isso chamamos formação. Atletas que viriam preparados no clube, sem alguns vícios adquiridos durante sua vida esportiva. O futuro do esporte em São Lourenço do Sul.

E as dificuldades em um país de costumes e língua diferente?
Ainda estou me adaptando. A ideia ao chegar ao Rio Grande do Sul a proposta era absorver costumes e hábitos, pois tudo vai marcar muito, e vai ficar por toda a vida. E tentar ser mais um de vocês.
A volta para a Argentina…
Primeiramente ir ao consulado brasileiro para providenciar uma documentação, necessária para habilitar, no caso de um retorno. Depois, trabalhar talvez em um projeto de formação de jovens de base. Também existem convites para palestras na Argentina. E grato por tudo o que aconteceu.

Mensagem final
Somente agradecer por um excelente tratamento, depois de passar oito meses longe de minha família. Aos comunicadores que sempre me disponibilizaram espaço e me trataram bem. Enfim, somente agradecimentos por tudo, e que possamos repetir e melhorar no nosso trabalho. Tempo de renovar as ilusões…
Texto: Airton F. Iepsen
Imagens: Guilherme Krüger Stallbaum e Gustavo Weber