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GRÊMIO RECREATIVO ESPORTIVO RESERVENSE – 1918/2020

Por:   Airton F. Iepsen e Fernando Brächer

Texto publicado em homenagem aos 106 anos do clube, completados hoje, 10 de janeiro de 2024.

 

Muito já se escreveu com relação às origens, costumes, tradições e crenças do povo pomerano nas páginas da publicação eletrônica Folha Pomerana Express. Já lemos sobre festejos, festas de comunidade, corais, crendices, religiosidade, e claro suas origens lá no norte da Europa, o rifamento de seu território pelas nações vencedoras da 2ª Guerra Mundial, praticamente a sua extinção no velho continente a ponto de praticamente seu dialeto não ser sequer mais conhecido na região. E claro a aventura desse povo ao se deslocar rumo ao desconhecido, local com outros costumes, outro idioma, e um mergulho em algo praticamente sem uma garantia. Já lemos muito sobre personalidades que se destacaram nas colônias pomeranas, seja no Espírito Santo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, locais que abrigam as grandes legiões desse povo. E claro, depois de mais de 100 anos um resgate e um reconhecimento a importância dos pomeranos no Brasil, em todos os âmbitos, sejam culturais, econômicos e porque não dizer políticos. A importância de se manter vivo o seu dialeto que hoje atrai atenção de estudiosos especialmente da região onde outrora existia uma, se podemos dizer assim uma nação, compreendida entre a Alemanha e Polônia. Hoje queremos trazer um assunto se não inédito, pelo menos pouco abordado pelos articulistas da publicação. Trazemos a história de um clube de futebol fundado por imigrantes alemães e pomeranos e já alguns descendentes em pleno período da 1ª Guerra Mundial: O Grêmio Recreativo  Esportivo Reservense, atualmente o mais antigo clube de futebol em atividade no interior do município de São Lourenço do Sul. Situado no 6º distrito, distante apenas 4 quilômetros da localidade de Coxilha do Barão, considerado o berço da colonização alemã em São Lourenço do Sul, local onde hoje se encontram o monumento e os restos mortais de Jakob Rheingantz.

Segundo os atuais dirigentes, muitos dos quais descendentes dos fundadores, o clube foi fundado no dia 10 de janeiro de 1918 conforme indicam documentos. Não se pode afirmar que foi a origem, mas uma tradicional empresa da localidade, o Curtume Brächer teve participação importante na criação da agremiação, visto que os primeiros atletas que vestiram a camiseta da equipe foram na sua grande maioria,  trabalhadores da empresa, de origem familiar e ainda hoje em atividade. Conforme documentos consultados, os seguintes imigrantes ou descendentes foram os fundadores do clube: Osvaldo Halfen, Oscar Brächer, Carlos Reguly, Frederico Levien, Mathias Levien, Alexandre Bammann, Arthur Kneipp, Alfredo Kroll, Otto Kneipp, Willy Kneipp, Gustavo Kneipp, João Kneipp, José Neutzling, Guilherme Brächer, Ludwig Kroll, Alexandre Matzenauer, Alexandre Neutzling, Bernardo Heiden, Adolfo Neutzling e Jorge Heiden entre outros. Abaixo a fotografia talvez o primeiro documento, de uma equipe do G.R.E. Reservense, datada de 1928, tendo como cores o preto e o branco:

Foto: Equipe do G.E.R. Reservense – 1928. Gentileza Theo Guilherme Brächer.

Como podemos observar na nominata de fundadores, na totalidade são imigrantes ou descendentes de imigrantes alemães, pomeranos e até poloneses. Lembrando que este clube foi fundado em uma época especialmente conturbada no cenário mundial, no ano do fim da 1ª Guerra Mundial, e já neste período aconteceram perseguições contra tudo que lembrava a imigração alemã e pomerana a começar pelo idioma, passando por cultura e também religião. Porém o período mais complicado foi a 2ª Guerra Mundial quando a perseguição (oficial) foi uma situação gravíssima, onde os descendentes tiveram inclusive que de se desfazer de literatura original de seu país de origem e obviamente ficar privado inclusive de seu idioma pátrio. Por isso, o período entre os anos 1930 e 1950 foi de pouca movimentação no clube. Abaixo, a equipe do G.R.E. Reservense dos anos 1950, tendo como goleiro uma de nossas referências da história do clube: Theo Guilherme Brächer.

A agremiação foi fundada, segundo registro em ata com a finalidade de promover o esporte no interior do município, incutir na juventude o espírito esportivo, e ao público em geral um ambiente de simpatia e amizade mútuas através da realização de partidas amistosas em diferentes localidades. Não se tem notícias de outras equipes existentes no interior do município naquele período. O mais antigo depois do G.R.E. Reservense também ainda hoje em atividade é o seu mais tradicional adversário: O E. C. Boa Vista, fundado em 1938.

A partir dos anos 1950, com novos componentes, nova diretoria o clube voltou as suas atividades regulares movimentando a comunidade. Aliás, o G.R.E. Reservense está inserido na comunidade de São João da Reserva, local que abriga o único e moderno hospital do interior do município: Hospital Dr Walter Thofehrn. Por isso no futebol eles são denominados de “enfermeiros”. Até os anos 1960, como não havia a organização de campeonatos regulares, restava às equipes existentes organizarem jogos amistosos ou festas esportivas com a presença de muitas equipes. E cada partida tinha que ter um vencedor para receber a premiação oferecida. No caso de terminar o jogo empatado, tinha disputa de pênaltis para decidir o vencedor. Abaixo, uma decisão dessas onde aparece o goleiro da equipe em foco, Theo Guilherme Brächer defendendo uma cobrança de pênaltis, no antigo gramado, alugado.

 A partir do final dos anos 1970, com a criação de uma liga, a Associação Colonial de Esportes de São Lourenço (ACEL) e com a participação de mais equipes criadas a partir dos anos 1950 e 1960 surgiram as primeiras competições. E para fazer frente às despesas com uniformes e atletas os dirigentes resolveram promover bailes do Chopp, que aconteceram de 1969 até 1992, que por anos foram a grande atração no interior do município, pois acontecia  sempre no mês de janeiro, período de férias, que reunia muita gente que vivia fora da comunidade. Também foram responsáveis todos os anos por uma importante arrecadação para a manutenção do clube. Lembrando que já em 1972 conquistava o título do tradicional campeonato colonial lourenciano. O clube tinha até um termo de compromissos, registrado em ata no ano de 1959,  algo como um manual de conduta que os atletas que vestiam a camiseta alvi negra deviam obedecer. Entre as cláusulas, a falta por mais de 3 treinos consecutivos era passível de exclusão do quadro, atletas que estivessem alcoolizados estariam fora da partida, e atletas em caso de doença deveriam comunicar a situação 5 dias antes dos jogos. Abaixo uma flâmula comemorativa ao cinquentenário do clube, com a presença do seu mais tradicional adversário, o Leão da Colônia, Esporte Clube Boa Vista, casualmente os dois localizados no 6º distrito do município e que faziam o “Clássico do Interior”.

E a atualidade? Hoje o G.R.E. Reservense briga para subir para a 1ª Divisão do Campeonato Municipal, depois de ser rebaixado ao não disputá-lo em 2017. Depois de décadas utilizando um gramado alugado, hoje possui gramado próprio de boa qualidade. Continua ativo, porém os bailes do chopp não mais acontecem. Foi uma fase de grande sucesso que passou. Continua participando da vida esportiva de torcedores descendentes dos fundadores, entre descendentes de alemães e pomeranos. Hoje o futebol de campo compete diretamente com as tradicionais festas de comunidades, os tradicionalíssimos carteados, e também com torneios especialmente de futsal, que tem muita aceitação porque precisa de menos atletas para formar uma equipe. Podemos afirmar que esses eventos são o que movimentam a vida nos finais de semana do povo que vive na chamada colônia de São Lourenço. Afinal o esporte é parte integrante dessa gente que trabalha muitas vezes de segunda feira até domingo ao meio dia para no domingo à tarde se divertir um pouco com o futebol. E nesse contexto a mais antiga equipe colonial lourenciana está inserida. Afinal futebol também faz parte da tradição de alemães e pomeranos.

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